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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Seu Lunga



A RESPOSTA DE SEU LUNGA

Quando aqui se aproxima
O dia da eleição
Todo político daqui
Se veste de emoção
Discursa o já discursado
E pegue aperto de mão.

As ruas todas percorrem
Fazendo muita fuzarca
Empurrando seus retratos
Com seu jeito de monarca,
De largo e falso sorriso
Como sua melhor marca.

E promete e repromete,
Repromete tanto e tanto
Que tem gente besta ainda
Que vibra com tanto encanto
Que por eles até briga,
Chora e chama de meu santo.

E o povo todo embriagado
Com esse movimento
Não percebe a diferença
Entre Chico e Chico Bento;
Não pensa com a razão,
Pensa com o sentimento.

Quem nunca teve valor
Com valor agora anda,
Corre pra cima e pra baixo
Promovendo propaganda,
Dizendo: – Nesse período
A gente manda e desmanda.

E Seu Lunga virou um,
Um cidadão disputado
De hora em hora aparece
Visitas de todo lado
De candidato risão
E de partido safado.

E numa dessas visitas
Vi um político cupido
De votos do cidadão
Chegar todo comovido
Ao comércio de Seu Lunga
Seguido de seu partido.

Foi se abrindo e dizendo:
– Seu Lunga, como está tu?
Respondeu Lunga na bucha:
– Tô bem, não sei do tatu
Que foi para Mossoró
Turistar co’o cururu.

Depois de ouvir falar
Que lá caiu um cometa
Fazendo um buraco só
Deixando a coisa lá preta
Desde o pé de Pé-Quente
A ex-praça da Gazeta.

Mas desapei, desapei…
Vamos sentando doutor
A casa daqui é pobre
Prum doutor como o senhor,
Mas desapei e se sente,
Se sente aqui, faz favor.

Disse o político risão:
– Seu Lunga é com alegria
E muita satisfação
Que eu venho aqui nesse dia
Visitar sua pessoa
Que tem tanta simpatia.

E como sabe o senhor
Eu sou daqui candidato
A prefeito do lugar,
Ficaria muito grato
Se o senhor votasse em mim
E em meu filho Nonato.

E Seu Lunga respondeu:
– Eu já tenho em quem votar.
Mala Veia insistiu
E disse: – Pode cobrar
Quanto quer pelo seu voto,
Diga que eu posso pagar.

Seu Lunga mudou de cor
Igual um camaleão
E disse: – Me respeite
Filho da corrupção,
Está pensando que eu sou
Homem de variação.

Seu Lunga, longe de mim
Em querer lhe ofender,
Eu só queria lhe dar
Uma ajuda sem haver
Pra mim qualquer vantagem
Nem pro senhor um dever.

Mala Veia ainda quis
Falar pra justificar,
Mas Seu Lunga disse firme:
– Você não vai me comprar
Com cem ou nenhum conto
Nem vai a mim desonrar.

Você não quis ofender?!
Você quer é brigar comigo,
Pensa que eu sou um bobão,
Filho do calor de figo
Gerado dentro dum ovo
Ou sou daqui um mendigo?

E meu voto é coisa séria
Não troco, não boto a venda
Nem dou para qualquer um.
Quem quiser provar da prenda
Terá de ser muito honesto
E fiel a minha agenda.

Na minha agenda está dito:
Pra meu voto conquistar
Deverá o candidato
Querer bem e bem amar,
Saber dividir seu pão
E no povo amor plantar.

Ficar longe da vaidade,
Da fama e do preconceito.
Andar no vagão da paz,
Defender todo direito
Que pluralize a justiça
Lá dentro do nosso peito.

Veja na educação
A força da juventude
Que precisa de mão certa
Pra atiçar sua virtude,
Aclarar seu caminho
E zabumbar sua atitude.

Procure sempre igualdade
Na igualdade da vida,
Da vida de seu irmão
Que tem a vida medida,
Contada e multiplicada
Em sua lei produzida.

Que sinta a dor do doente
Na fila do hospital
E de lá saia casado
Com a vontade brutal
De transformar a doença
Numa saúde imortal.

Mergulhe na natureza
E sinta sua agonia
Depois saia repetindo
Tudo que ela sentia
Para convencer o povo
Que ela quer só cortesia.

More onde o povo mora:
Em morada sem vigia,
Sem fechadura elétrica,
Sem cerca e sem regalia
Para mostrar sua prática
E sua filosofia.

Trabalhe um dia inteiro
Junto dum agricultor
Dez dias de cada mês
Para você dá valor
A quem coloca na mesa
Seu pão com tanto amor.

O imposto arrecadado
Seja transformado em praça,
Hospital, creche, escola,
Quadra de esporte de graça.
Estrada e maternidade
Sem distinguir cor nem raça.

Quando Seu Lunga virou
De sua agenda a primeira
Página das trinta e cinco –,
Com cara de fim de feira
Mala veia disse: – Lunga
Pare com essa zoeira!

Não tá vendo que não tem
Um político nesse mundo
Que faça tudo isso aí.
Lunga disse: – Seu imundo
Puxa daqui e também leve
Seu bando de vagabundo.

O político Mala Veia
Inchou, inchou e sem mais…
Saiu com seus partidários
Sem nem olhar para trás
Pisando alto do chão
Igualzinho um Ferrabrás.

Eu quando vejo um político
Hoje arrebanhando votos
Desejo aqui no Brasil
Vinte milhões de devotos
Das respostas de Seu Lunga
Para botar sem resmunga
Pra correr quem comprar votos.
Fim

2 comentários:

  1. Bispo Ismael Gaião Diz:

    4 abril 2010 às 0:37
    Parabéns José Augusto
    Pelo Cordel excelente
    Só lamento em lhe dizer
    Que eu penso diferente
    Pois acho que o povo gosta
    Só de político indecente

    Coloque na sua mente
    Que de Maluf a Arruda
    O povo sabe dos roubos
    Mas o seu voto não muda
    É por isso que o Brasil
    Está um Deus nos acuda

    Mais uma vez, parabéns pelo excelente cordel, grande poeta!
    Se você mora em Pernambuco participe conosco da UNICORDE (União dos Cordelistas de Pernambuco).
    Abraços, poéticos.

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  2. Obrigado Is. Gaião
    Pelo sincero dizer
    E dizer como é bom
    A gente dizer saber
    Que pensar o diferente
    Faz a gente aqui crescer .

    E é por isso que eu penso,
    Penso, repenso e escrevo
    Para catucar a cuca
    Nem que seja só um nervo
    Desse povão iludido
    Que só quer viver de frevo.

    Parabéns repito eu
    Por essa divulgação
    Extraída das raízes
    Do agreste ao meu sertão
    Sem cara bela nem feia,
    Mas com cheiro de pirão.

    Sou da Paraíba e moro em Mossoró-RN.
    Um balaio de Abraços

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