Ilustração: Marcelo Morais
.NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO
Sempre vivi aprendendo,
Aprendendo e ensinando,
Ensinando e refletindo,
Refletindo, investigando;
Assim eu fui descobrindo,
Descobrindo e perguntando.
Nada fazia parar
A vontade de querer,
De querer e querer mais,
Querer sempre mais saber
Das coisas belas da vida
E ao saber me prender.
Até que um dia eu
Aprendi ser professor,
Professor da juventude
Que tem muito pouco amor
A vontade de estudar
Que me causa até pavor.
Mas sabe como é aluno,
Às vezes é remanchão,
Preguiçoso e desligado...
Em outras, só atenção,
Inteligente e esperto,
Cheio de reflexão
E pra ninguém duvidar
Que o futuro da nação
Pertence a todo estudante
Hoje um levantou a mão
Lá num cantinho da sala
E disse: – Me diga ou não!?
Professor, você já sabe,
Da nova lei da gramática?
Lubrifiquei a goela
Tentei responder com tática
E disse que eu já sabia,
Essa foi minha didática.
– Meu amigo, Otaliano,
Essas coisas de linguagem
É pisar pisando espinho,Porque por uma bobagem
O preconceito linguístico
Prejudica nossa imagem.
Pois fique você sabendo
Que já entrou em vigor
A nova lei da gramática
Pra aprumar professor,
Aluno, juiz, político,
Escritor e promotor.
Agora em 2009
Em Angola e Portugal,
Timor-Leste e São Tomé,
Brasil e Guiné-Bissau,
Cabo Verde e Moçambique
A língua ficou igual.
Mas eu fico imaginando:
Essas cabeças de ar
Por capricho ou por política
Invés de descomplicar
Fazem tudo, tudo fazem...
Pra linguagem complicar.
E assim quando não podem
Calar a língua falada
Complica mais a escrita
Deixando-a mais engessada,
Colada no céu da boca
Até mesmo mais pesada.
– Pois bem! Caiu o acento
Das palavras: assembléia,
De jiboia, paranoia,
Tipoia, joia e ideia.
E sendo ditongo aberto
Caiu também de plateia.
Porém nas paroxítonas
Desapareceu também
Acento de taoismo,
Feiudo, feiura sem...
Afetar sua pronúncia
Nem a língua de ninguém.
Buliram com outro acento
Que vai dar dor de cabeça
Em cabeça de matuto
Até que restabeleça
Ponto por ponto a ideia,
Ou suba, desça e esqueça.
Esse acento é dito e visto
Como diferencial,
Pois ele diferencia
Pôr de por que é um casal
Que tem desigual sentido
E som totalmente igual.
Também veja Otaliano
Como foi mesmo tirado
De pára – forma verbal
O acento consagrado
Deixando igual para a para
E muito mais enrolado.
Péla do verbo pelar
Ficará sem seu acento,
Com igual grafia à pela
Do fechado casamento
(Preposição e artigo),
Sem causar constrangimento.
E fica com seu acento
Pôde, verbo no passado.
Conjugado no presente
Pode fica carimbado
Sem acento pra não ter
Estudante atrapalhado.
O acento circunflexo
Não será usado mais
Nas palavras de grafia
Com “ôo” e os seus iguais:
Abençoo e magoo,
Voo, perdoo e demais.
E também saiu de “êem”
O acento circunflexo
Das palavras leem, creem
Deixando menos complexos
Os verbos ver, crer, ler dar
Que me deixavam perplexo.
O trema tremeu, caiu
Do nosso vocabulário,
Deixando o “ü” sem véu,
Sem trabalho e inventário
Do grupo que, qui, gue, gui
Que fez esse comentário:
– Sem trema e mesma pronúncia:
Sagui, sequestro, frequente,
Benguê, tranquilo e linguiça.
Logo atrás vem eloquente
Louco me dizendo: – Trema,
Não tem mais quem aguente.
Por fim, falarei da última
Das regras gramaticais
Imposta pra ser seguida
Dos sertões as capitais,
Dos países já citados
De vidas tão desiguais.
O hífen não tem mais uso
Quando seu prefixo finda
Em vogal e a segunda
Palavra começa ainda
Com as letras S ou R.
Essa ideia foi bem-vinda!
Assim como em contrarregra
E antirreligioso.
Contrassenha e minissaia
Ficaram até gostoso
De se ler e declamar
Sem me deixar cabuloso.
Também não se usa o hífen
Quando a palavra termina
Com vogal e outra começa
Outro termo que destina
Uma vogal diferente
Seja aqui ou lá na China.
Como: autoaprendizagem
E neopetropolitano,
Seguidos de autoestrada
Depois euroafricano.
E em autoeducação
O hífen foi pelo cano.
Mas regras têm exceções;
Veja em super-resistente,
Onde o prefixo termina
Com R e R presente
No vocábulo adiante
Tem hífen regularmente.
Olhou-me Otaliano
E disse-me prontamente:
– O acordo também teve
Um olhar inteligente
Botou W, K e Y
No alfabeto da gente.
Disse-lhe: – Tu tens razão,
Do nosso cotidiano
Essas letras fazem parte
Como Franklin, frankliano,
Darwin, Kely, show, sexy,
Byte, Kuwait, kuwaitiano.
Quando a aula terminou
Uns gostaram da didática,
Outros acharam melhor
Do que química e matemática,
E Otaliano disse:
– Assim aprendo gramática.
E ficaram estudando,
Aprendendo e refletindo,
Refletindo e perguntando,
Perguntando e discutindo
Que a língua a cada dia
Vem viva com valentia
Mudando e se descobrindo.
FIM
muito bemn elaborado este cordel parabéns!!!
ResponderExcluirQuem é o autor do cordel?
ResponderExcluirMUITO BACANA.
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