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domingo, 13 de março de 2011

UMA BOLHA NO PÉ DE RONALDINHO

ANTONIO FRANCISCO
Um poeta sem facetas
     Conta-se que Imperador Alexandre ‘O Grande’ um dia encontrou o Sábio Diógenes de Sínope e perguntou a ele o que desejava naquele momento, pois o próprio imperador era capaz de satisfazer todas as suas vontades e desejos. Então Diógenes sem se mexer e com olhar fixo para aquele homem a sua frente disse simplesmente: “Só desejo uma coisa, meu grande imperador, que saias da frente de meu sol. Isso é realmente o que desejo”. O grande Imperador tenta intimidá-lo, e faz outra pergunta: “Então você não me temes?” Diógenes diz: “O que faz você? O bem ou o mal? Você é um tirano ou um virtuoso?” Responde o Imperador: Faço o bem e me considero um homem virtuoso”. Finaliza Diógenes de Sínope: Pois é, “quem haveria de temer o bem de um homem virtuoso”.
     Todo esse diálogo entre o Imperador Alexandre e o Sábio Diógenes me faz lembrar em algum momento a poética de Antonio Francisco, principalmente, em seu poema: ‘Uma bolha no pé de Ronaldinho’, isso, quando o descreve o desejo de felicidade almejada por um torcedor centrado nas coisas supérfluas, certamente, confundindo-se com o desejo de liberdade.

Ilustração: Marcelo Morais



















UMA BOLHA NO PÉ DE RONALDINHO

Quando é ano de capa, o brasileiro
Se afoga num mar de emoção:
Pinta e borda de verde e amarelo
A camisa, a sandália e o calção,
E coloca uma bola no lugar
Onde antes batia o coração.

E em todo o planeta a gente vê
Esse povo valente e varonil
Sem metralha, trincheira e baioneta,
Sem bazuca, pistola e sem fuzil,
Lambuzados de verde e amarelo
Defendendo a bandeira do Brasil.

E antes da copa um torcedor
De camisa sem gota amarelada
Caminhava tristonho, cabisbaixo,
Com os olhos nos olhos da calçada,
Quando viu encostada ao meio-fio
Uma lâmpada metálica esverdeada.

Abaixou-se e pegou aquela lâmpada
E passou curioso o dedo nela.
A lâmpada tremeu e sacudiu
Uma nuvem vermelha e amarela
E em cima da nuvem apareceu
Um gênio sentado em cima dela.

E, antes que o jovem torcedor
Desse um grito ou pulasse de emoção,
O gênio falou: – Diga meu amo,
Eu estou pra servir na sua mão...
Não tem um só problema neste mundo
Que eu não tenha pra ele a solução.

Você pode pedir o que quiser,
Eu farei seu desejo num segundo,
Mas antes preciso lhe dizer...
Passei mais de um século aqui no fundo
Desta lâmpada sem ver a luz do sol;
Não sei quase mais nada deste mundo.

A mente do jovem torcedor
Acendeu de repente o candeeiro
E saiu percorrendo palmo a palmo
As veredas do chão do mundo inteiro
Procurando azagaia eu furava
A canela do povo brasileiro.

E achou ou achou que tinha achado
E disse ao gênio bem baixinho
O que tem empatando o meu Brasil
De trilhar sorridente em seu caminho
Segurando no pé do povo é
Uma bolha no pé de Ronaldinho.

Se você realmente tem poder,
Mostre agora, seu gênio, o seu valor.
Tire a bolha do pé do nosso craque
Salve o mundo salvando um jogador
E depois que cumprir sua missão,
Você pode partir pra onde for...

O gênio ergueu seu braço esquerdo
E sorrindo, soprou na sua mão
E disse: – Seu ídolo está curado
Desde o dedo do pé ao coração,
Só ficou um pouquinho mais pesado
Para os ombros da sua seleção.

O rapaz, sem pensar direito disse:
– Você pode seu gênio, dar o fora...
Sem a bolha do pé de Ronaldinho
Nosso povo será feliz agora...
Essas três polegadas de preguiça
No começo da copa vão embora.

O gênio chutou com força a lâmpada
E partiu num milésimo de segundo.
Rasgando os lençóis brancos das nuvens,
Se perdendo na luz do céu profundo,
Carregando com ele a sensação
De que tinha salvado o nosso mundo.

Se o gênio tivesse ouvido o grito
Estridente que brota da goela,
Da fome pedindo mais comida
Nos barracos famintos da favela,
Com certeza só tinha ido embora
Quando ele quebrasse o grito dela.

Se tivesse também passado as mãos
Entre as mãos dos pequenos lavradores,
Com certeza teria visto o ombro
Que sustenta os pés dos jogadores
E teria salvado a outra copa –,
A que joga por trás dos bastidores.

Agora é torcer que um gênio caia
Entre os pés de um poeta sonhador –,
Que peça um mundo mais fraterno
E nunca entre os pés de um torcedor
Que pensa que o mal do mundo é só
Uma bolha no pé de um jogador.
(Antonio Francisco)
Postado por José Augusto em 13/03/2011.

5 comentários:

  1. Legal! Li o cordel "Uma Bolha no Pé de Ronaldinho", e gostei muito. Perabéns ao nosso poeta Antônio Francisco. Amigo de presepadas de meu pai.

    Matheus

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  2. José Augusto,
    Li sua poesia, gostei muito e estou aqui "na pisada de Maria" Olha que na pisada de Maria da um Título para cordel.
    Estou aqui para lhe dizer da importância de seu comentário. São pessoas como você que me fazem seguir nesta pisada procurando não ser uma cópia e tentando juntar técnica e inspiração.
    Um forte abraço e obrigada de coração.
    Dalinha Catunda

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  3. Olá Dalinha...
    Discordo de você em pontos: primeiro, você não está aí, você em todo canto, sua poesia é clara e mostra isso; segundo, você não está na pisada de Maria, você está na pisada de Marias.
    Abraços de mim, Luiz Campos, Zé Ribamar e Antonio Francisco que estão aqui ao meu lado.
    José Augusto.

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  4. Valeu Mathues, seu presepeiro, vá estudar viu, o vestibular está em cima.
    Abraços...
    José Augusto.

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  5. Olá José Augusto,
    Retribua meu abraço a Luiz Campos, Zé Ribamar e Antônio Francisco.
    Passei aqui para deixar meu abraço e ler mais um tiquinho do seu blog.
    Um abraço,
    Dalinha

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